#83

o vazio

 

o que te faz pensar que tudo vai mudar

se você nunca muda

em vez disso, emudece

não planta uma muda, que ninguém rega, não cresce

 

não fruti…

…fica aqui, por favor

é ruim com você, sem você é só dor

é saudade, é vazio, é tristeza

tá sobrando um lugar ao meu lado na mesa

e cadê você?

cadê você?

cadê você?

 

que não está aqui

ou melhor, está sim

aqui dentro de mim

e em todos os cantos

desse lar em prantos

cadê você?

cadê você?

cadê você?

 

então vê se aparece

não some

não esquece

de tudo, que eu sei, foi tão bom

 

é que eu cansei de ser durão

cadê você?

cadê você?

cadê você

 

#82 …

um coração apertado

 

toda dor que doi agora
é saudade, eu sei
do que foi lindo e ainda está
nessa lembrança que te grita
o tempo todo sem esquecer
do que também não foi tão bom

bom saber que estás bem
ou ao menos não tão mal
qualquer noite te visito
no banquinho dos meus sonhos
para ti, para mim, para a gente se acertar, enfim

e vai ser só o começo, o início, o primeiro
passo e beijo, dado e tido
dessa história que não é
nem de hoje ou dessa vida
que não morre e renasce
cada vez que fecho os olhos e te vejo a sorrir

com os olhos

#81

a saudade da preta

 

 

saudade do teu colo

de ficar em silêncio ao teu lado

encostar na tua pele

respirar o teu cheiro

ouvir nossos sons

sozinhos

 

 

pois juntos somos um todo

uma dupla

o amor

 

 

você

eu

nós

laços

 

 

vida ávida para ser vivida

 

 

contigo

comigo

conosco

 

 

amanhã

ontem

hoje

 

 

por quantos agoras essa existência nos permitir

 

 

.

#80

a voz

 
 

há muito tempo descobri que não tenho as respostas.

e que, talvez, nunca as terei.

entretanto, percebi que encontrar as perguntas é motivo de alegria.

pois embora elas não respondam, instigam.

nesse sentido, agarrei-me a todas.

abracei, beijei, sorri e chorei feito louco.

fiz de conta que o medo já não existia.

escondi esse intruso num canto qualquer.

numa música nova, cheia de coragem.

todavia, em silêncio, ouvi aquela voz que, vez ou outra, vaza aqui dentro:

seque a lágrima, cesse o riso, siga o rumo, sinta o som.

sei, pensei, falas isso por não ser contigo.

não, retrucou, digo justamente por falar de mim.

cansei de tagarelar e não ser ouvida.

agora que ouves, quero que faças.

e se não fizerdes, não calarei.

quieta! ordenei.

ela riu.

ri também.

deu até vontade de seguir além.

vem comigo?

vou.

então vamos.

fomos.
 

agora, aqui estou.

#79

existir

a partir daqui já é excesso. vômito, suor, lágrima, grito. uma vontade de falar demais, ouvir demais, sentir demais e demais sentidos que não têm mais fim. apenas um: o fim de tentar entender, enfim, o sentido de estar aqui. o porquê. deve ter um. não deve ser só nascer, crescer e morrer. não pode ser. ou talvez possa e eu não queira crer. talvez seja e eu não possa ver. ainda. ainda bem. só assim tenho motivos para continuar a busca dos motivos de estar aqui. aqui e agora. e agora. e agora. e agora? agora continuo a querer saber. a querer ser em vez de estar. e a partir daqui já é excesso. inunda. borbulha. transborda.

#78

um até breve.

ele foi o primeiro cachorro que amei. não, essa não é uma frase retirada de uma música romântico-brega, dessas que retratam a história de um amor cafajeste não correspondido.

falo do grande amigo que, no último domingo, passou para outro plano. do amigo que fez as minhas idas à Vassouras mais divertidas. do cara que se jogava no chão ao menor sinal de que receberia um carinho. das muitas vezes que brinquei de andar pela casa só pra ver por quanto tempo ele me acompanharia. e ele nunca deixou de acompanhar e fazer com que me sentisse tão importante quanto o Seu Catico, a Dona Sônia, o Otávio e a Preta. é, ele me fez um membro da família.

ele me fez morrer de rir ao me seguir diversas vezes até o banheiro e insistir em ficar, mesmo nos momentos menos respiráveis. ou quando me esperava acordar na porta do quarto enrolado na sua inseparável mantinha. ou quando resolveu demonstrar seu amor por mim de uma maneira, digamos, demasiadamente afetiva (sim, em algum momento da vida ele achou que poderíamos copular. mas, após poucos minutos de conversa, entendeu que esse tipo de relacionamento seria impossível. o assédio nunca mais se repetiu).

ele mudou a minha concepção errônea sobre uma raça mal falada. me provou que era possível passear na rua com um touro em forma de cachorro, com base na confiança mútua e tranquilidade.

ele me fez chegar em casa e cumprimenta-lo com um abraço. o mesmo abraço que eu fazia questão de dar quando retornava para Niterói.

ele me fez descobrir que cachorros podem sentir falta de ar por emoção provocada por saudade.

ele me deu a alegria de vê-lo amigo da pinga, de brincar com a pinga, de passear com a pinga.

ele virou letra de música.

ele me fez tão feliz, tão feliz, tão feliz… uma felicidade que vai ficar pra sempre aqui dentro do meu coração.

prometo tentar não ficar muito tempo triste por você ter partido, amigão. seria injusto contigo.

mas prometa também: de vez em quando, volte para dar um abraço no Seu Catico, na Dona Sônia, no Otávio, na Preta, na Pinga e em mim. vamos estar te esperando nos nossos sonhos.

obrigado por tudo, Herinhos.

até um dia. beijo. do seu amigo.

Educação e bom caráter indescritíveis.

Educação e bom caráter indescritíveis.

#77

ciclos

acho que 2013 fechou um ciclo que se iniciou em 2010. o processo de neurose, o questionamento profissional e pessoal, as instabilidades emocionais, a experiência em são paulo, a volta para casa, a busca por um novo caminho de vida, a realização de pequenos sonhos, a companhia de pessoas certas, amigos e amores, a reprogramação do pensamento, a descoberta do poder do amor e da esperança, da vontade de viver e mais um infinito de sensações e descobertas que não caberiam em apenas um ano. mas acho que consigo enxergar que tudo foi necessário para que eu chegasse à percepção do hoje. e entender que o caminho da felicidade está em passar da fase “eu sei tudo” para a fase “eu tenho certeza de que não sei porra nenhuma”. e isso torna a vida muito mais fácil. consigo e com os outros. a meta, para dois e sempre, é trabalhar mais essa certeza do nada saber.

obrigado aos amigos, familiares e amores pela oportunidade de aprendizado ao longo desses anos e dessa vida.

especialmente por saber que, em muitos momentos, estar ao meu lado não deve ter sido tão fácil. e por saber que o amor de vocês, independente da maneira que tenha sido emitido, é o maior incentivo que recebo para continuar.

muito amor para todo mundo em 2014. =)

#76

um pedido.

não feche os olhos. pois ainda quero te ver. não corte os punhos. não pare o pulso. tão impulsivo. pois vai passar. você vai ver. essa é a chance pra eu e você. vem conversar. me faça rir e não chorar. nesse assunto você já caprichou. e agora o tempo é de tentar mudar. e não cumprir a velha profecia. de não se dar com quem se deve amar. vem. sobe aqui. esse é meu quarto. tá bagunçado. mas não repare. me dá um abraço. conta uma história que eu já ouvi. e um conselho que não vou seguir. vem aqui. vem. vamos fumar. beber. cantar. falar de coisas sem se preocupar. no dia em que a gente vai só ser. uma saudade em forma de ser só.

#74

o blues de saideira.

não me canso de dizer que meus amigos são a minha maior riqueza. mas hoje, eu e alguns amigos ficamos mais pobres. perdemos a alegria de conviver com um cara fora de série. desses que não se encontram por aí em qualquer esquina. não mesmo. um maluco beleza de coração bom, de jeito desligado, e que, mesmo sendo o mais velho dos meus parceiros de música, sempre pareceu ser o mais criança de todos. o tio de alguns de meus melhores amigos, que se tornou também meu tio, meu amigo, meu incentivador, meu brother. o sujeito que tinha uma criatividade empírica, que compunha harmonias que nunca foram pro papel e que, por isso mesmo, sempre se reinventavam ao sair da sua cabeça. o pianista do melhor pior power trio no qual já pude tocar. o melhor pior power trio que animou muitas tardes minhas e de daniel augusto. o tio que tinha nome de tio, oswaldo, mas que todos chamavam de tio júnior, de juninho. e não dava pra chamar esse cara de oswaldo. pois a alma dele era júnior, travessa, meio boba, meio ingênua, totalmente transparente. o cara que abria a casa pros jogos de pôquer, pros churrasquinhos, pros banhos de sol e piscina, pros sons, inúmeros sons, divertidíssimos sons.

hoje a partitura do tio júnior está marcando uma pausa com tempo indefinido. mas ainda dá pra ouvir a voz sorridente desse cara. ainda dá pra ouvir o pianinho de métrica louca soando.

2013 começou ao lado dele, na casa dele, no piano, na craviola, nas conversas sempre alegres. e ele nunca vai deixar de estar com a gente. afinal de contas, num mundo onde pessoas escrotas se proliferam como gremlins molhados, sou feliz por ter tido a honra de conhecer, conviver e aprender com esse cara. não foi o bastante. acho que nunca seria. pois a companhia dele sempre foi digna de pedir bis. e, se as próximas vidas me permitirem, gostarei de poder fazer parte da banda da vida desse cara novamente.

hoje, se pudesse falar algo pra ele, agradeceria. agradeceria pela alegria de ter sido, muitas vezes, o seu metrônomo particular, como ele gostava de me definir.

pediria pra ele aparecer de vez em quando aqui em casa, nos sons que continuarão rolando sem a alegria do seu pianinho de métrica louca e músicas sempre inéditas. cada vez mais inéditas.

e, se Deus e o céu existirem mesmo, peço a Ele que receba o tio júnior com um pianinho na porta. e deixe ele brincar pelo tempo que for.

aos amigos da família perpétuo e afins, agradeço por terem me emprestado o tio júnior nas tantas vezes que pude estar ao seu lado. obrigado por me deixarem chamá-lo de tio. um tio que vai ficar pra sempre na minha memória.

e por falar em memória, fico feliz por ter registrado um dos nossos últimos encontros musicais. a tarde de 4 de janeiro de janeiro de 2013, quando passamos horas brincando no piano e batera aqui em casa. horas de ensaio de um blues que, composto pelo tio júnior, tinha mesmo que fugir à regra de ser triste.

um blues que, mesmo tendo sido composto pelo tio júnior, me dou o direito de batizar como “Blues da Saideira”.

valeu pela sua harmonia, Tio Júnior. já estamos com saudades.